O Rio Grande do Norte ainda não conseguiu recuperar sua malha aérea doméstica em relação ao período pré-pandemia. O Estado registrava 8.455 voos em 2019, número que caiu para 7.599 em 2025 (considerando operações já realizadas e as programadas até dezembro). A retração equivale a uma queda de 10,5%. Em relação aos assentos, o desempenho é diferente: em 2019 foram 1,327 milhão de lugares ofertados, próximo ao patamar deste ano, quando a oferta totalizou 1,328 milhão. Os dados constam em um levantamento da ForwardKeys, encomendado pela revista PANROTAS.

O cenário segue o mesmo padrão de dados nacionais e é sentido pelas entidades do turismo local. De acordo com Raoni Fernandes, diretor-presidente da Emprotur, os dados mostram estabilidade na chegada de passageiros. “Apesar do Rio Grande do Norte ter diminuído a quantidade de voos domésticos de 2019 para 2025, essa diminuição não é a mesma quando se trata de assentos, dado que se manteve estável. Paralelo a isso, o estado cresceu no número de voos internacionais. Nós mais que dobramos a quantidade de voos internacionais se comparado 2015 a 2024. Eram 205 e agora foram 417 voos, um crescimento de 103%”, relata.


No panorama nacional, o estudo aponta que o Brasil também não retomou o volume de voos de 2019, quando registrou 799.798. Neste ano, são 784.969, considerando operações realizadas e programadas até dezembro. Apesar disso, assim como a dinâmica no Rio Grande do Norte , os assentos superaram a marca. Em 2025, a oferta chega a 126,5 milhões, acima dos 118,7 milhões de 2019.


Para Marina Marinho, secretária estadual de Turismo, o levantamento ForwardKeys reflete um desafio nacional, mas reforça o compromisso com a ampliação da conectividade. “Estamos em diálogo constante com companhias aéreas e operadores para ampliar rotas e frequências, além de fortalecer o turismo regional e internacional”, afirma. Ela destaca que os avanços recentes em infraestrutura e em segurança, recuperação de rodovias e promoção já geraram resultados concretos, como os do primeiro semestre.


A Zurich Airport Brasil, concessionária que administra o terminal de São Gonçalo do Amarante, divulgou dados que apontam que o fluxo de passageiros no primeiro semestre de 2025 alcançou 1,19 milhão, crescimento de 3,6% em relação ao mesmo período de 2024. A Gol liderou a movimentação, com 423 mil passageiros, seguida pela Latam, com 409 mil, e pela Azul, com 300 mil. No segmento internacional, a TAP manteve a ligação com Lisboa, com 36.746 passageiros transportados.


Ricardo Gesse, CEO da Zurich Airport Brasil, destaca que o Aeroporto de Natal possui uma ampla capacidade operacional para receber novas frequências. “Nossa pista pode receber até 30 movimentos por hora, contamos com oito pontes de embarque e uma capacidade instalada para até 6,2 milhões de passageiros por ano. Ainda operamos com tranquilidade em relação ao limite da infraestrutura existente, o que nos permite crescer sem necessidade de expansão física imediata”, relata.


Segundo o executivo, o objetivo tem sido reposicionar o Aeroporto de Natal como um terminal seguro, sustentável e com experiência diferenciada ao passageiro, ampliando também a conectividade. Entre as iniciativas, cita a inauguração da primeira sala VIP e a criação de espaços multissensoriais para acessibilidade e o fortalecimento da agenda ESG. Em paralelo, a concessionária tem atuado na prospecção de novas rotas e mercados, visando ampliar o fluxo de passageiros.


Apesar dessa estabilidade no número de assentos com relação ao período pré-pandemia, o trade turístico local ainda sente os efeitos da retração de voos. “Esta diminuição realmente encolhe a economia aqui da nossa cidade. Vemos hoje, na verdade, entidades ligadas ao turismo fazendo um trabalho muito forte fora do Brasil, para poder retornar esse turista internacional, que é o que vai realmente melhorar bastante a situação”, avalia o vice-presidente da ABAV-RN, Luís Leite.


Segundo o levantamento da ForwardKeys, o Rio Grande do Norte vem perdendo espaço para outros estados nordestinos, como Alagoas, que de 2019 a 2025 registrou um crescimento de 29,2% nos voos domésticos, saindo de 7.481 para 9.672. Já a Paraíba, apesar do crescimento de 22,3% no mesmo período, ainda segue atrás do Rio Grande do Norte em número de voos, com 7.186 em 2025. O cenário se repete no que concerne ao número de assentos, com 1,190 milhão no mesmo ano, número inferior ao potiguar (1,328 milhão).


“Nós temos hoje, dentro de Natal, comparando com nossos estados vizinhos, a melhor rede hoteleira e ela não pode estar vazia. Ela tem que ter sim uma demanda, mas precisamos também ter tarifa [aérea] competitiva. Caso contrário, você acaba perdendo esses voos”, avalia Luís Leite.


Segundo a Zurich, as tarifas aeroportuárias seguem os parâmetros definidos pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e estão em linha com o que é praticado nacionalmente.


Para a próxima alta temporada, novos voos domésticos já foram anunciados. A Azul Linhas Aéreas anunciou a operação de 258 voos extras de para Natal entre 13 de dezembro de 2025 e 1º de fevereiro de 2026, concretizando um aumento de 77% em relação à última temporada. A rota Congonhas–Natal passará de um para oito voos sema

nais, e outras cidades do Sudeste também terão frequências adicionais. A ligação com Recife subirá para 42 voos semanais.


Essa alta temporada também deve refletir na Azul Viagens, operadora de turismo da companhia. A oferta de voos dedicados a Natal crescerá 69%, de 16 para 27. De janeiro a julho, a operadora levou 64 mil turistas à capital, 23% a mais que em 2024. O aumento também foi registrado na oferta de assentos: 32,5 mil lugares disponibilizados em 2025, contra 17,5 mil no ano anterior.

Malha aérea do RN perde espaço em 10 anos

Uma análise de mais longo prazo mostra que em 10 anos a malha aérea doméstica do Rio Grande do Norte sofreu retração ainda mais significativa. Em 2015, o Estado contabilizava 9.915 voos, contra 7.599 em 2025, uma perda de 23%. Em número de assentos, a queda se repete, saindo de 1,58 milhão em 2015 para 1,32 milhão em 2025, uma diminuição de aproximadamente 16%.


Nesses 10 anos, estados vizinhos seguiram caminhos opostos. Alagoas saltou de 7.332 voos em 2015 para 9.672 em 2025, um salto significativo de 31,9%, enquanto a Paraíba subiu de 6.583 para 7.186, um aumento de 9%. Para o setor, a comparação é incômoda, pois mostra perda de protagonismo em um mercado turístico altamente competitivo.


“João Pessoa era sombra do Rio Grande do Norte em questão de atração de praias. Hoje, João Pessoa superou a chegada de turistas, porque houve divulgação e foi feita uma estrutura realmente muito boa. João Pessoa não tem a rede hoteleira de Natal, mas agora está chegando perto. É preciso que Natal acompanhe justamente esse fluxo, para que também não fique lá embaixo. Acho que todos têm o direito de ter um resultado positivo na área do turismo”, afirma Luís Leite, vice-presidente da ABAV-RN.


Para ele, o Rio Grande do Norte reúne atributos naturais que o colocam em posição privilegiada no turismo, como praias, águas cristalinas e clima favorável. Luís pondera, no entanto, que ainda é necessário avançar na infraestrutura, já que “há muita coisa para fazer”.


Os números de faturamento reforçam esse movimento de recuperação. O turismo potiguar faturou R$ 655 milhões de janeiro a maio de 2025, segundo a Fecomércio-SP, com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O valor representa alta de 7,5% em relação a igual período de 2024, quando o volume foi de R$ 609 milhões, garantindo ao RN o terceiro melhor desempenho do Nordeste, atrás apenas de Bahia (12,5%) e Ceará (9,4%).


“Isso nos coloca numa perspectiva para 2026 de crescimento de 2 dígitos percentuais das três companhias aéreas nacionais. Todas as três [Azul, Gol e Latam] apresentam um horizonte de crescimento na malha aérea para o ano que vem. Mas o grande destaque vai, mais uma vez, para o internacional, que este ano já cresceu 54% em relação a 2024, e para 2026 vai crescer ainda mais”, afirma Raoni diretor-presidente da Emprotur.


Ainda neste ano, o Aeroporto de Natal começará a receber voos diretos diários de Buenos Aires, na Argentina, a Natal. Essa conexão regular é a primeira dos últimos 26 anos, quando foi iniciada a ligação com Lisboa, através da TAP. A Jetsmart, que irá operar o trecho, é uma companhia aérea ultralowcoast, com preços de bilhetes mais acessíveis. A previsão é que os voos diários da Jetsmart sejam iniciados em 30 de dezembro.


Segundo dados divulgados pelo Governo, a Argentina é o principal emissor de turistas internacionais para o RN. O país vizinho teve um crescimento de 136,9% nos primeiros seis meses de 2025, comparado ao mesmo período do ano passado. “Estamos aumentando em 300% a malha aérea da Argentina para o Rio Grande do Norte. Só na próxima alta temporada nós estamos acrescentando 26 mil assentos diretos da América Latina para o Rio Grande do Norte”, destaca Raoni.


No levantamento da ForwardKeys, o número de voos domésticos em 2025 é liderado por São Paulo com 257.217, Rio de Janeiro (72.271) e Minas Gerais (68.859). Já nos três últimos lugares estão Amapá (1.973), Acre (1.969) e Roraima (1.279).