A história dos Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu ganha destaque especial neste ano, com uma programação litúrgica e cultural que celebra a memória dos homens e mulheres assassinados em 1645. Canonizados pelo Papa Francisco em 2017, os mártires do Brasil têm sua festa religiosa no dia 3 de outubro, feriado estadual do RN, quando milhares de fiéis se dirigem aos santuários de Natal e São Gonçalo do Amarante para rezar, agradecer e pedir intercessão. Este ano, as celebrações marcam também os 380 anos dos morticínios que se tornaram referência para a fé católica potiguar e patrimônio espiritual reconhecido pela Igreja no mundo inteiro
Para a Igreja Católica, o testemunho dos mártires foi determinante. “Os santos mártires têm uma grande importância para a nossa fé, para a nossa catolicidade. O fato de terem dado a vida por amor a Cristo e à Igreja já é um grande legado. Quando a gente olha para a história do Rio Grande do Norte e vê pessoas cristãs, católicas, que derramaram sangue por amor a Cristo, isso é o maior testemunho que alguém pode dar”, explica o pároco do Santuário dos Santos Mártires, localizado em Natal, padre Fábio Pinheiro.
As narrativas sobre os mártires envolvem dois episódios centrais: o massacre de Cunhaú, em 16 de julho de 1645, durante a missa presidida pelo padre André de Soveral, e o de Uruaçu, em 3 de outubro do mesmo ano, quando o pároco de Natal, padre Ambrósio Francisco Ferro, foi morto ao lado de aproximadamente 150 fiéis. Entre eles, Mateus Moreira se destacou no momento em que tinha o coração arrancado pelas costas e gritou “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”. O contexto foi a disputa entre portugueses e holandeses pela posse da capitania e o choque com as populações indígenas.
A memória, que por muito tempo permaneceu restrita às comunidades locais, foi retomada pela Igreja nas últimas décadas, culminando na beatificação em 2000 e na canonização em 2017. “Se hoje eles são santos, isso quer dizer que por muito tempo essa história ficou esquecida e foi resgatada pela Igreja. O dia 3 é um dia de rememorar. É feriado por causa deles. Para nós católicos, é um dia memorável, de vir rezar, de pedir a intercessão e olhar para esse testemunho”, acrescenta o padre Fábio.
O fortalecimento da devoção, segundo o pároco, vem sendo construído gradualmente. Ele observa que, ao contrário de santos populares como Santo Antônio ou São Francisco, os mártires demandaram um processo de retomada, reforçado pela canonização e pelo interesse de escolas e movimentos. Padre Fábio cita este como um “trabalho de formiguinha” que desperta, a cada ano, maior engajamento dos fiéis.
Além da dimensão histórica, o pároco enfatiza a atualidade da mensagem deixada pelos mártires. “O testemunho deles é, acima de tudo, de amor. Quando a gente diz que eles morreram por causa de Jesus, lembramos que Jesus ensinou amor, perdão, caridade. Em meio a tanta violência, a tantas trevas, eles são sinal de esperança para nós. Quando olhamos para a história dos mártires, não perdemos a fé. É possível, mesmo com todos os desafios, olhar para o futuro com esperança”, pontua.